África pode ajudar a aliviar crise alimentar causada por guerra na Ucrânia; entenda
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Conselheira especial do chefe da ONU para a região considera haver condições para maior relevância no mercado global de cereais; Cristina Duarte defende maior justiça no acesso aos mercados internacionais de capital.

A conselheira especial do secretário-geral da ONU para a África acredita que é preciso romper com o discurso político de décadas sobre a primazia da agricultura no continente africano que não coincide com os resultados.

Cristina Duarte declarou à ONU News, em Nova Iorque, que o momento atual é para mudar a forma de pensar diante da crise alimentar causada por fatores como a guerra na Ucrânia e os efeitos da Covid-19 na economia.

Capital humano

Cristina Duarte é anfitriã da Série de Diálogos sobre África 2022, que decorre até o fim deste mês. O tema do evento é “Construir resiliência na nutrição: Acelerar o capital humano e o desenvolvimento socioeconômico da África”.

A subsecretária-geral explicou como a crise gerada pelo conflito entre a Ucrânia e a Rússia pode ser tida como uma janela de oportunidade.

“Trouxe à tona, de forma dolorosa, a elevada dependência alimentar e cerealífera do continente. Ou seja, trouxe à tona um paradoxo: um continente que tem todas as condições para ser um global player (ator global)  no mercado cerealífero  mundial equipara-se com uma situação de extrema dependência.  Isto deve nos interpelar a todos. Não só aos policymakers, mas a todos. A cada africano que existe. O que eu acho é que nós, no caso deste choque externo, não nos podemos focalizar nos problemas com uma lógica de dependência, mas temos que nos focalizar nas soluções com uma lógica de independência.”


Entre as questões abordadas no evento estão alimentação, proteção social, nutrição e cadeias alimentares.

Para a entrevistada, esta série questões temas prioritários para União Africana convida os líderes da região a colocarem as pessoas da região no centro das políticas.

Dinheiro

“O made in África (produzido em África).  Será isto uma forma dramática para aumentar a segurança alimentar em África? Eu acho que sim. Há três aspectos: a política fundiária, pois não adianta continuar a driblar e temos que a enfrentar. A questão tecnológica e a questão do financiamento. Relativamente à questão do financiamento, não numa lógica de olhar para fora e achar que o dinheiro está fora da África. Não. O dinheiro está em África.”

 

Duarte ressaltou que a produção no continente baixou em um décimo mesmo antes das crises combinadas da Covid-19 e da guerra na Ucrânia ©FAO/Giulio Napolitano | Duarte ressaltou que a produção no continente baixou em um décimo mesmo antes das crises combinadas da Covid-19 e da guerra na Ucrânia

Para incentivar a busca de oportunidades perdidas na pandemia, Cristina Duarte recomenda que planos nacionais considerem soluções a questões locais.

 

“Neste momento, fluxos ilícitos envolvem US$ 86 bilhões. Ineficiência em termos de despesas públicas na educação em torno de US$ 22 bilhões. Ineficiência em termos de despesas públicas e saúde US$ 12 bilhões e outros US$ 18 milhões… Se somarmos tudo entre fluxo e a ineficiência de despesas públicas chegamos a US$ 150 bilhões. Nós temos os recursos para mobilizar recursos. Claro que os recursos domésticos africanos não são suficientes para financiar todas as nossas necessidades, mas são mais do que suficientes para pôr a África numa posição de mais justiça em termos de aceder aos mercados internacionais de capital.”

 

Pobreza

Um estudo do Banco Africano de Desenvolvimento revela que a produção alimentar global aumentou 145% em quatro décadas.

Mas Duarte ressaltou que a produção no continente baixou em um décimo mesmo antes das crises combinadas da Covid-19 e da guerra na Ucrânia que aumentaram a pobreza.

Até 27 de maio representantes da ONU, políticos, técnicos, acadêmicos e sociedade civil discutem temas de impacto para o continente na recuperação pós-pandemia.

Participantes discutem temas de impacto para o continente como alimentação, proteção social, nutrição e cadeias alimentares@PMA | Participantes discutem temas de impacto para o continente como alimentação, proteção social, nutrição e cadeias alimentares

 

Fonte: ONU | Foto: ONU/Reprodução.

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